Sugestões para facilitar a conversa com crianças e adolescentes sobre violência sexual

5 maio 2019

Imagem: Geralda Guevara

Olá pessoal, como vão vocês?

Aproveitando o mês de maio e a proximidade do dia nacional de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes (para saber mais sobre essa data, clique aqui ), hoje quero abordar aqui um aspecto deste tema que causa muito receio em grande parte dos profissionais que lidam diariamente com crianças e adolescentes: como falar sobre prevenção de violência sexual com os pequenos?

Essa é uma das principais perguntas que as pessoas me fazem quando me abordam pedindo orientações para trabalhar essa temática nos mais diversos contextos: em casa com seus filhos, nas escolas, unidades de saúde ou assistência social, nos consultórios, etc. Sempre que me fazem essa pergunta, percebo que quando se fala em violência sexual infantojuvenil, parece que a primeira palavra que vem à cabeça das pessoas é: sexo. E aí, instantaneamente: como falar de sexo com crianças e adolescentes?

Esse é o primeiro ponto sobre o qual precisamos fazer uma consideração: quando falamos de prevenção à violência sexual não estamos falando diretamente de sexo. Falar de prevenção à violência sexual é falar do nosso corpo, de conhecê-lo, de construir nossos conceitos de privacidade e consentimento, de compreender a diferença entre toques de carinho e toques abusivos. Observo que este é um assunto muito recente nas nossas rodas de conversa entre profissionais. Conversamos pouco sobre isso. Refletimos pouco sobre o nosso próprio corpo e sobre nossos conceitos de privacidade e consentimento. Talvez este seja um dos motivos da gente ainda considerar o assunto difícil para ser abordado com as crianças e adolescentes. Se  não refletimos sobre isso na nossa experiência pessoal e não conversamos disso nem entre nós mesmos, como vamos falar com os pequenos?

É importante dizer que falar sobre este assunto é falar sobre a nossa própria sexualidade e sobre como olhamos para a sexualidade das crianças. É necessário que a gente estude sobre sexualidade e aprenda a diferenciar sexualidade de sexo. O conceito de sexualidade está relacionado ao modo como nos relacionamos, o que nos afeta em nossos encontros e a energia vital que obtemos através destas relações. Tem a ver com corpo, com cuidado, com carinho e com a formação de nossa identidade. Não podemos esquecer que todos temos direito ao exercício de uma sexualidade saudável, inclusive as crianças.

Por esses motivos, minha primeira resposta à pergunta como falar de violência sexual com crianças é: comece pensando sobre sua própria sexualidade. Visite sua infância. Veja como foi seu aprendizado sobre seu corpo e sua privacidade. Feito isso, estude sobre o assunto. Leia materiais a respeito e observe as crianças e adolescentes ao seu redor (falarei mais sobre estes pontos em um próximo texto). Aí sim parta para a segunda etapa: aproxime-se da criança, tente enxergar o mundo a partir do olhar dela. Parta das perguntas e curiosidades que ela tiver e daquilo que ela já assimilou sobre o tema. Isso facilitará bem a tarefa.

Tendo essa proximidade com a criança, promova momentos para abordar o assunto. Seguem abaixo algumas sugestões de materiais para trabalhar o tema:

  • Materiais elaborados pela pedagoga Caroline Arcari: Caroline é autora do Livro Pipo e Fifi, que trata da autoproteção de crianças e adolescentes de forma delicada e objetiva. Seu livro é sucesso no Brasil e no mundo. Há ainda uma versão de Pipo e Fifi para bebês. Recentemente, ela lançou o livro Gogô: de onde vêm os bebês? que conta de forma lúdica e clara a história que mais desafia os adultos na relação com as perguntas infantis. Além desses dois livros, a autora tem diversos outros materiais essenciais para quem se relaciona com crianças, seja pessoal ou profissionalmente. Clique aqui e aqui para conhecer o trabalho dela.
  • Livro Tuca e Juba – Prevenção de violência sexual para adolescentes: Livro de autoria da educadora sexual Julieta Jacob que aborda o assunto com uma linguagem bastante conectada ao universo adolescente, facilitando com o dialógo com este público. Também está disponível para compra aqui.
  • Livro Segredo Segredíssimo: Livro da autora Odívia Barros que aborda o assunto do ponto de vista da importância da quebra do segredo, aspecto que, na maioria das vezes, dificulta a revelação da violência. Embora eu tenha algumas críticas ao livro, ainda assim considero um material que pode ser útil para o trabalho com as crianças. Editora Geração Editorial.
  • Livro Meu corpo é especial – um guia para que a família converse sobre abuso sexual: De autoria de Cynthia Geisen, é um livro que aborda pontos importantes sobre a relação da criança com o seu corpo. Também é um material com o qual não concordo na íntegra, mas é uma opção para facilitar o diálogo com os pequenos. Editora Paulus.
  • Vídeos do Canal Fafá conta histórias: A contadora de histórias Fafá conta de forma delicada a história de Pipo e Fifi e a história de Gogô: de onde vem os bebês? Se você prefere esta forma de conversar com as crianças, vale conferir o trabalho dela.
  • Série Que Corpo é esse?: Uma boa forma de conversar com as crianças sobre consentimento, privacidade e outros assuntos relacionados ao nosso tema. Acesse a playlist aqui.
  • Campanha Defenda-se: Vídeos curtos e objetivos sobre a temática. Acesse aqui.

Bom, acho que já deu para perceber que jeito e materiais para abordar o tema, sobre os mais variados ângulos, com as crianças e adolescentes, nós temos. Vamos refletir sobre o assunto, falar a linguagem dos nossos pequenos e estudar os materiais? Existem muitos outros materiais bacanas que, aos poucos, vou postando aqui para vocês. No próximo texto, vou continuar falando sobre o tema. Acompanhem!!

Imagem: arquivo pessoal da autora

 

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