Anestesia.

14 abril 2019

Imagem: autoria desconhecida

Quando a anestesia acabou, teve quem se assustou. Alguns haviam passado tanto tempo inertes que pareciam nem saber que estavam anestesiados. Teve quem se frustrou. Sem anestesia, descobriram que a vida não era precisamente aquilo que  imaginavam. Ela não cabia em gaiolas.Quando a anestesia acabou, teve quem se enxergou como nunca se viu antes. Teve quem achou difícil se olhar no espelho. Teve quem descobriu que, mesmo inerte, havia se transformado. Um mesmo eu, mas um outro eu. Com o fim da anestesia, tudo era tão claro que chegava a dar medo.Quando a anestesia acabou, teve quem chorou. E ao mesmo tempo sorriu. Teve quem descobriu o que é sentir. Teve quem se sentiu. Meio estranho. Sensível demais. Chorão. Eufórico. Meio doido. Teve quem sentiu medo. Teve quem sentiu saudades de não sentir. E assim tentou encontrar o caminho de volta.Quando a anestesia acabou, havia entre todos algo em comum. Acordar para a vida assim de repente é coisa que angustia. Cada qual a seu modo angustiado diante da novidade. À flor da pele tudo era novo. Tudo era desconhecido. Tudo era possível. Sensações e descobertas. Sem anestesia, era permitido viver. Viver sentindo. Sentir vivendo.

 

Texto escrito em 18 de dezembro de 2017.
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